frestas.trienal.artes [EDSON BARRUS - AÇÕES E EXTINÇÕES)
O que significa apresentar o projeto imburana em uma grande exposição de arte contemporânea? Estaria a salvaguarda do pé de imburana em Carnaubeira garantida a partir dessa visibilidade e fortalecendo a causa comum da defesa da imburana de cambão? Como se reconfigura o objetivo do projeto a partir de sua inserção no mundo da arte? outras perguntas sem respostas surgirão...
Na Frestas , o projeto imburana se costitui no plantio da muda de imburana no Jardim Botânico de Sorocaba (10/08 às 10h), na instalação na garagem do Sesc, contendo uma tora de imburana comprada em Ibimirim e 2 bancos de madeira disposto no chão, uma fotografia (2mx3m) em lona vinilica, pregada com ilhoses na parede. No centro, a projeção de um filme e o lixo coletado no terreno em Carnaubeira da Penha sob a projeção. Há também, uma vitrine comprida contendo a Cacaria do projeto imburana.
Os objetos no chão da instalação, são sapatos, chinelos, garrafas inteiras e quebradas de vidro e pet, plásticos, alumínio enferrujado, borracha ressecada e lixo industrial de toda espécie. Os sapatos e os cacos são sinais que me intrigam muito. É imperativo devolver a poluição trazida dos grandes centros industrias para a localidade periférica. poluição de lixo e de doenças.
A fotografia que esta na instalação é minha, mas isso não importa, o projeto desde o inicio se constitui como uma iniciativa coletiva. O filme, é um extrato de um curta experimental que yann beauvais está realizando sobre o projeto imburana e essa reaproximação com uma sentimento de pertencimento, de retorno a uma coisa que te chega pela lembrança de expressões, cheiros, temperaturas, texturas, que o projeto resulta.
Quando comecei a coletar os cacos, eu tinha em mente o quebra-quebra da diáspora e também uma curiosidade pelo saber/fazer local. A cacaria é o resultado do quebra-quebra no momento da expulsão dos indígenas locais pelo colonizador branco, mas eu queria mesmo era entender através dessas marcas como se fazia a cerâmica, que formas, que tipo de argila, qua forma de alisamento do barro e montagem da peça. Cada caco é uma virtualidade, é um possível de se encontrar com outro pedaço e produzir novas virtualidades, e viver desse porvir.
Mas é uma história de apagamento histórico, de costume, de saber-fazer, de empoderamento do indígena. Então coletar os cacos e tentar reconstrui-los é um jeito de resistir a esse apagamento, essa invisibilidade. Colocá-los no museu indica uma falta.