Planta se mostrou incompatível com a flora e a fauna da caatinga existente no semiárido do País


O Pacto Ambiental da Região dos Inhamuns (Parisc) se mobiliza contra a proliferação do plantio do nim (Azadirachta indica A. Juss) em municípios dessa região. A preocupação é no sentido de evitar a proliferação, em vista dos danos ambientais já verificados naquela região.

O cultivo da espécie e sua proliferação estão provocando prejuízos a outras espécies vegetais e até animais, uma vez que possui também propriedades repelentes

Na última semana, o Pacto enviou documento ao Ministério do Meio Ambiente, ao Governo do Estado e para pesquisadores da espécie que atuam em universidades brasileiras. O objetivo foi informar acerca do elevado aumento no plantio da espécie exótica, vinda da Índia, alegando que prejudica o bioma caatinga. Afirma que a ação agrava ainda mais o processo de desertificação no Estado. Solicita que o órgão determine pesquisa urgente sobre os efeitos da espécie no País, especialmente no semiárido brasileiro.

 


Iniciativa

"Tomamos a iniciativa de enviar esse documento para a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, e esperamos atitudes concretas por parte do Ministério em relação a esse fato. Isso vem agravando ainda mais a situação do processo de desertificação no Estado do Ceará", explica Jorge de Moura, secretário executivo do Pacto.

No documento, o Pacto relata a preocupação com a introdução de espécies oriundas de outros países no bioma caatinga, alertando que não há controle no Estado, e que as espécies nativas da caatinga estão perdendo espaço para as árvores exóticas.

Diz ainda que ações como essa trarão grandes prejuízos ao meio ambiente e ao bioma em um futuro próximo, com base em cinco justificativas: "a espécie nim se alimenta dos microrganismos da terra, é repelente natural de proporções desastrosas para a fauna e a flora, tem poder extraordinário de reprodução que já está sem controle, é árvore invasora, é abortivo natural que já ocasiona danos na região", defende o documento.
Experiências

Agricultores da região tiveram experiências negativas com a espécie. O proprietário da Fazenda Veneza, no município de Tauá, plantou há quatro anos duas mudas de nim em seu pomar próximo a um cacimbão.

"Todas as árvores fruteiras do seu sítio morreram e até parece que atearam fogo, a água está contaminada. Se algum canteiro de verduras ou mesmo árvores forem regadas com essa água, a mortandade é de imediato".

Outro caso relatado é o do agricultor Luiz de Miranda, no município de Parambu, que plantou apenas duas mudas da planta e rapidamente ela se proliferou pela sua propriedade invadindo um córrego e todo o espaço do entorno.

Para o Pacto, a espécie tem potencial benéfico, desde que controlada. "Manipulada de forma correta tem inúmeros benefícios. Deveria ser restrita aos laboratórios e universidades para trabalharem seus produtos. O que não concordamos é a forma como essa árvore está sendo incorporada no bioma caatinga, de forma incontrolada", destaca Jorge Moura.

Ele lembra que, em 2011, o Parisc realizou uma audiência pública com a presença dos 12 municípios que compõem o Pacto, ocasião em que tratou sobre a questão. Mostrou aos 12 municípios integrantes que a plantação da árvore nim como arborização das cidades é um crime ambiental de graves proporções.

Plantio

Salienta que, após a audiência, alguns municípios da região seguiram as orientações e iniciaram processos e campanhas de arborização e plantios com espécies nativas.

Para o botânico e engenheiro agrônomo Antônio Sérgio Farias, a preocupação do Pacto Ambiental é muito válida. Explica que, nos últimos dois anos, é que os efeitos da espécie estão sendo percebidos no Ceará.

"O plantio do nim é relativamente novo no Ceará, em torno de 10 anos, e quem plantou agora é que sente os efeitos". Salienta o botânico que as pesquisas ainda são poucas para se saber exatamente os efeitos prejudiciais ao bioma. Porém, enfatiza o seu poder invasor e prejudicial ao ecossistema.

"Não é adequado para arborização e jamais para o reflorestamento, que tem que ser feito com plantas nativas".

"O nim assim como outras espécies (algaroba, sempreverde, entre outras) estão em quantidade excessiva na caatinga e invadem o bioma, competem com as nossas espécies e ganham. Propagam-se rápido e tem fácil poder de adaptação. Já podemos afirmar que o bioma caatinga está descaracterizado, especialmente no que se refere à flora. Se não tomarmos providências, em curtíssimo prazo, as espécies do bioma caatinga desaparecerão".

 

https://diariodonordeste.verdesmares.com.br/editorias/regiao/ambientalistas-alertam-contra-cultivo-do-nim-1.243149

 

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