As histórias da imburana e da arte se entrecruzam no fomento de matéria-prima da imburana para a confecção de esculturas, de matriz das  xilogravuras e utensílios (colheres de pau, gamelas, cachimbos, bancos). Com ela também se fabricam colchos, colmeias para a apicultura, cangas ou cambão para os animais puxarem carroças, dai seu nome.

A madeira da imburana é macia e responde bem ao corte e a lixa. Por ser maleável, e por ser protegida (para sempre) do cupim, é uma das preferidas por artesões e escultores contemporâneos do nordeste. Este fato, além do seu uso como lenha, pode ser percebido como soma aos fatores contribuintes ao processo de extinção da imburana. Porém, Mestre Bitinho argumenta que o artesão aproveita a madeira rachada, "aproveitando aqueles pedaços de imburana":  "O carranqueiro, o artesão, não acaba madeira não.  Quem acaba madeira é o Governo. Aqui em Pernambuco, acabaram tudo. os projetos acabaram com as imburanas que tinha perto. Cortaram tudo! Essa Agrovale acabou com tudo também! Milhares de hectares para plantar cana."

Efrain de Almeida , Manoel Graciano , Nino , Véio , José Bezerra , Manoel Santeiro

são alguns artistas estabelecidos, entre tantos, que usam a imburana para fazer suas obras, mesmo que com pedaços caídos encontrados na mata, a relação com a natureza é extrativista.

Carrancas, santos, utensílios de cozinha, portas, móveis, colméias, cambãos. Esculturas e artesanato, as cascas, as folhas, as sementes e carvão compõem o imaginário Museu da Imburana.

A preservação da Imburana também tem a sua história cruzada com a arte. É a partir da iniciativa de alguns artesões e artistas que a imburana viabiliza a sua salvação enquanto espécie. A Oficina de Carrancas Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany, tem em Santa Maria da Vitória - BA, um projeto de reflorestamento de imburanas. A Associação de Santeiros de Ibimirim, tem um projeto, não viabilizado, de produção de mudas e plantio de 1.000 árvores. Esses artistas, juntos com os apicultores da região, estão defendendo o tombamento da imburana, como medida protetora.

 

 

De acordo com o relatório de início de maio/2019 da Plataforma Intergovernamental para Biodiversidade e Seviço Ecossistêmico (IPBES), um milhão de espécies estão em risco de extinção. Pela redução e mudança das áreas de ocorrência de várias espécies. Muitas das espécies ameaçadas não são conhecidas ou são pouco consideradas devido a distribuição restrita ou endêmica, caso da imburana de cambão que é endêmica da caatinga. O relatório alerta que cada espécie perdida afeta nossa qualidade de vida e demanda ações mais efetivas para reverter a degradação ambiental, lembrando nos que a questão ambiental tem que ser cuidada do individuo até comunidades.

Em um contexto de desmatamento agressivo com fins ao cultivo agrícola mercantil e a produção comercial de carvão vegetal a iniciativa do Projeto Imburana de preservação do patrimônio natural da caatinga do sertão pernambucano é exemplar e didática, e soma-se às iniciativas de artistas que tentam dar visibilidade, propor saídas ao problema nem sempre bem sucedidas e conscientizar a população do risco de extição da imburana.

Em Notas de uma recém-chegada , Lucy Lippard escreve que não pode ser subestimado o potencial reconstrutivo de uma prática de arte que restaura e revela o significado de um lugar para aqueles que vivem nele, fornecendo alternativas para a visão voraz de natureza da cultura dominante. Esta arte que ocorre fora dos locais convencionais, torna visível o seu local ao invés de simplesmente ocupa-lo é 'place-specific' mais do que que 'site-specific', incorporando pessoas, forças econômicas e topográficas. Ela torna-se parte na construção de uma crítica do já instituído e/ou no envolvimento diário. Faz com que os lugares signifiquem mais para aqueles que vivem ou passam tempo nele. Para a autora, a atração do Local está embutida na terra, na história e na cultura e nas possibilidades que eles possuem como Place-specífic, "arte pública"  adequada ao lugar. (The Lure of the Local, 1997).

 

 


Ainda, de acordo com Lippard, se os lugares são histórias que esperam ser descobertas, os artistas podem ser os contadores de histórias que podem relacionar o local com as narrativas mais grandiosas, mais familiares e talvez mais insidiosas. Para a autora, os artistas podem ser muito bons em expor as camadas de ressonância emocional e estética em nossos relacionamentos com o local. Mesmo que muitas vezes não consigam atingir seus objetivos comunicativos, uma arte específica do lugar (Place-specific) oferece vislumbres tentadores de novas maneiras de entrar na vida cotidiana.

 

…...Toda a arte é um dispositivo de enquadramento para a experiência visual / ou social…..Oferecendo visões múltiplas das maneiras em que um espaço ou um lugar pode ser e é usado…..

………. Local Art que se funde com e / ou ilumina um lugar…..

...Uma arte governada pela Place-ethic seria:

ESPECÍFICA o suficiente para envolver as pessoas no nível de suas próprias experiências vividas, para dizer algo sobre o lugar como é ou foi ou poderia ser.

COLABORATIVA pelo menos na medida em que buscam informações, conselhos e feedback da comunidade em que o trabalho será colocado.

GENEROSA e ABERTA o suficiente para ser acessível a uma grande variedade de pessoas de diferentes classes e culturas, e a diferentes interpretações e gostos. ( Títulos e legendas ajudam muito aqui; Parece puro esnobismo - mesmo que não intencional - reter do público em geral o tipo de informação vital que pode ser acessível aos conhecedores).
 
ATRAENTE o suficiente visualmente ou emocionalmente para chamar a atenção e ser memorável.

SIMPLES E FAMILIAR o suficiente, pelo menos na aparência, para não confundir ou repelir potenciais espectadores-participantes.

EM CAMADAS, COMPLEXA E POUCO FAMILIARIZADA o suficiente para manter a atenção das pessoas, uma vez que eles foram atraídos, Para fazê-los admirar, e para oferecer experiências cada vez mais profundas e referências para aqueles que "perduram" dentro.

EVOCATIVA o suficiente para fazer as pessoas lembrar momentos relacionados, lugares e emoções em suas próprias vidas.

PROVOCANTE e CRÍTICA o suficiente para fazer as pessoas pensarem sobre questões que ultrapassam o âmbito do trabalho, para pôr questão pressupostos superficiais sobre o lugar, a sua história, e seu uso.


A arte Place-specífic mais eficaz  é a que "difere menos" do lugar em si; pode, por exemplo, consistir de pistas e informações em vez de outros objetos ou lugares dentro de lugares.

LIPPARD, Lucy. R, Entering the Big Picture,In The Lure of the Local: Senses of Place in a Multicentered Society, 1997, The New York Press, New York. (Tradução livre)

 

 

Compartilhar